segunda-feira, 4 de março de 2013

23 de Setembro 2011: Fortaleza. A palavra de dom José Luiz


Estas são as palavras que dom José Luiz Ferreira Salles, S.Ss.R - Bispo auxiliar da Arquidiocese de Fortaleza - pronunciou no Radio Dom Bosco no dia 23 de setembro de 2011, em ocasião do dia internacional contra a exploração sexual e tráfico de pessoas.
“Lançaram sortes sobre o meu povo; deram um menino por uma meretriz, e venderam uma menina por vinho, para beberem (Joel 4,3)
Esses dias andando pelo interior encontrei seu Raimundo um velho agricultor que estava admirado com as coisas que andam acontecendo pelo mundo... o sábio agricultor já não estava preocupado apenas com as chuvas que hora falta para molhar sua terra e fazer brotar o seu roçado.. queria saber do bispo se era verdade que agora estão traficando pessoas... Como um homem de fé seu Raimundo tirou o chapeu e suspirou: Deus nos livre de uma coisa dessas!!
Infelizmente seu Raimundo é verdade sim. O tráfico de pessoas é uma das atividades criminosas mais lucrativas, com cerca de 2,5 milhões de vítimas em todo o mundo e movimentando 32 bilhões de dólares por ano”. O tráfico de pessoas ocorre quando seres humanos são negociados, transportados, recrutados ou aliciados para fins de exploração”.
Casos como trabalhos e serviços forçados, exploração sexual, por meio de prostituição, e remoção de órgãos são as mais freqüentes finalidades do tráfico de pessoas. No Ceará, as vítimas, em sua maioria, são mulheres e adolescentes, de 15 a 25 anos, bem como crianças e homens. As maiores vítimas são mulheres na prostituição, homossexuais e travesti. Normalmente são pessoas de pouca escolaridade e de baixo nível de classe social. O modo de aliciamento mais comum é convencer as vítimas com o argumento de uma vida melhor de boa remuneração no exterior ou em outros estados aqui no Brasil. O aliciamento acontece freqüentemente em boates, casas noturnas, casas de massagem, motéis e prostíbulos etc. Os criminosos nesta área também usam classificados em jornais, revistas e até na Internet para enganar as vítimas.
O tráfico de pessoas é uma grave violação dos direitos humanos e crime com o propósito de alimentar a exploração da indústria do sexo, servidão doméstica, trabalho escravo, comércio de órgãos.
Hoje dia 23 de setembro é o Dia Internacional contra a Exploração Sexual e o Tráfico de Mulheres e Crianças. No dia de ontem aconteceu em fortaleza a primeira reunião do Comitê Estadual de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas do Ceará. Será papel do Comitê, formado por diversos órgãos colegiados, a criação do Plano Estadual de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas. A rede "Um Grito pela Vida” formada por religiosos e religiosas de várias congregações, está participando como igreja, deste conselho. A rede um grito pela vida é um espaço de articulação e ação solidária da vida Religiosa Consagrada no Brasil com o objetivo de sensibilizar e socializar informações sobre o Tráfico de Pessoas; capacitar multiplicadores para ações educativas de prevenção e intensificar a luta por políticas públicas de enfrentamento desta realidade.
A pesquisadora do Instituto Latino-americano de Direitos Humanos, Elizabeth Sussekind afirmou recentemente que apesar das inúmeras facetas desse crime - que movimenta pelas fronteiras internas e externas do planeta cerca de 4 milhões de pessoas, de acordo com a Organização Internacional da Migração, algumas características permanecem. "A principal delas é que se trata de exploração de gente. A outra é que geralmente as pessoas vão de países pobres ou em desenvolvimento para países ricos, que ocupam os principais assentos das Nações Unidas, analisa Elizabeth. Para ela, esse é um dos principais indícios de que o problema também engloba uma dimensão cultural. O pequeno número de condenações por esse tipo de crime – apenas 50 em todo o país, segundo dados do Ministério da Justiça – confirma a tese da pesquisadora de que a sociedade ainda está adormecida para o problema. Não podemos nos deter apenas no lado moral da questão diz Elizabete. É preciso enxergar o tráfico de pessoas como parte do crime organizado internacional, praticado por máfias poderosas.
É missão da Igreja colocar-se a serviço da vida. “A Igreja recebeu de Jesus a missão de cuidar do ser humano. Ao se fazer ser humano, Jesus revela o valor sagrado da pessoa. Tal missão pertence ao mais profundo de sua consciência evangélica” (CNBB, Doc.40, 203-204). Faz parte da identidade eclesial contribuir “com a dignificação de todos os seres humanos, juntamente com demais pessoas e instituições que trabalham pela mesma causa” (Aparecida, 398). Estamos nos preparando para uma Assembléia de Pastoral Regional e ArquidiocesanaA ação pastoral junto ao tráfico de pessoas e do trabalho escravo é expressão visível e privilegiada do ministério da evangelização. É a expressão concreta de uma Igreja consciente da sua missão de servidora do Evangelho. Portanto, não podemos em nossas assembléias de planejamento pastoral, tratar desse assunto apenas como uma nota de rodapé.
Que nossos planos de Pastoral, nossa ação evangelizadora 2011-2015 faça diferença revelando a sociedade que o outro existe e que seu sofrimento é real. Como Igreja, façamos ecoar a voz do profeta Joel: Lançaram sortes sobre o meu povo; deram um menino por uma meretriz, e venderam uma menina por vinho, para beberem (Joel 4,3). Bom dia!

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